Enviado por e-mail.
Gilsamara Moura: Apareceram questões acerca da percepção e sensação
nos experimentos e reflexões de vocês?
Olga Lamas: Nos foi um pouco complicado distinguir o que seria
a percepção e a sensação. Nós, inclusive, falamos sobre o fato de a percepção
gerar a sensação, mas dependendo do nível em que a percepção nos toca. Quando
eu comecei a escrever no meu caderninho, logo após o experimento, escrevi que
tinha a sensação de estar fazendo as ações para/no presente, sem demasiados
questionamentos que não os próprios do fazer, no quando do fazer – na própria
ação. Observando Gil e tentando responder aos seus estímulos, fui fazendo,
escrevendo, movimentando, (re)agindo. Nós, após o experimento, conversamos
sobre a ideia de não controlar o momento do ‘agora’, percebemos que fizemos um
exercício de deixar que o experimento fluísse para ver onde iria resultar. Percebemos
que exercitamos uma espécie de não-controle das ações, mas isso pode soar
contraditório. Claro que tínhamos e temos algum controle do que fazemos, mas a
tônica daquele experimento foi mais vinculada a um fluxo contínuo de ação, uma
improvisação por assim dizer. Andei dando uma olhada no que significa os termos
percepção e sensação e achei isso aqui: “Através da
percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para
atribuir significado ao seu meio”. Então aquilo que pensamos, sobre a percepção
gerar sensação fazia de fato sentido (risos). E sobre sensação, li que
significa a vivência
simples, produzida pela ação de um estímulo externo ou interno.
GM: O que mais chamou atenção de vocês? Percurso trilhado, ser observado/filmado?
Imagens durante a trajetória?
OL: Creio que o que um dos fatores que mais me chamou atenção (inclusive isso
me veio a tona com mais intensidade agora, após rever os vídeos dos
experimentos no Parque e os outros que te enviamos depois, falando da
experiência) foi o ‘fluxo de respostas’ que criamos; Gil me propôs algo, eu
respondi ao que ele tinha me proposto, ele em seguida me respondia ao que eu
lhe havia respondido e assim sucessivamente - este fluxo. Não só a minha ação
física, minha proposição física em resposta ao que Gil me propunha eu entendo
como essa ‘resposta’, mas também a maneira como eu filmava e observava as
proposições de Gil. Tanto que numa das primeiras filmagens que fiz dele se
movimentando no Parque eu fazia uma espécie de livre narração do que eu
observava, das imagens que ele me propunha ou, melhor dizendo, de como eu me
sentia ao observá-lo. As repetições e coincidências, por assim dizer, que
aconteceram também foram bastante significativas, a exemplo da pergunta “Há
branco suficiente?” que eu escrevi num papel e depois amassei e pus no bolso e
que depois ele também escreveu, amassou e pôs no bolso. A imagem dos papéis em
branco dispostos em linhas e que depois se tornaram papéis com palavras
escritas e sujeiras e amssos por conta de nossas movimentações em cima deles, é
uma imagem muito presente na minha memória desse experimento. Tanto que todos
os papéis em branco e referências ao ‘branco’ que venho vendo e ouvindo me
remetem a “Nó”.
GM: Quais imagens vocês poderiam descrever/dançar?
OL: Essa imagem do “Há branco suficiente?”, que remete ao branco como
espaço que não é vazio, mas preenchido pelo próprio branco ou como sendo, sim,
um espaço vazio a ser preenchido e que precisa da delimitação de uma outra ‘cor’
para saber-se branco. A imagem de uma ponte branca feita de papéis. A imagem de
uma movimentação através dos pontos de apoio (mãos, joelhos, cotovelos, pés)
sobre essa ponte, acima dessa linha de papéis brancos. A imagem do presente
sendo o tempo como um vento, um respiro; presente que se esvai, gasoso. Acaso e
abstração entrelaçados nesse tempo que vai, que foi e não volta. Repetição que
é esquecimento, que é memória, que vira outra coisa a cada vez. Repetição.
Repetição. Repetição...
GM: Desenhem tudo
o que observam em relação aos encontros e experimentem com elaborações de
dança. Preparem uma pequena partitura.
OL: Esta é a
partitura que criei (literalmente desenhada!). Foi feita num papel com linhas
roxas e não completamente branco, infelizmente (risos). A legenda, ela sim,
segue num papel em branco, no arquivo em anexo. Me propus ‘reviver’ o
experimento feito lá no Parque no momento em que desenhei esta partitura. Como?
Desenhei-a sem ter pré-concebido uma legenda, um significado para cada símbolo.
Desenhei a partitura em fluxo (assim como experimentamos as ações corporais no
Parque) e somente após tê-la desenhado é que atribuí movimentos/ações/significados
específicos para os símbolos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário