quinta-feira, 26 de abril de 2012

Texto de Isaura Tupiniquim sobre o Nó

Temos o prazer de publicar o texto de Isaura Tupiniquim sobre o espetáculo Nó.
Isaura é artista e mestranda do Programa de Pós-Graduaçao em Dança da UFBA.
Segue o texto:


Nó. Uma dança em imediação remota

Mostrando-se como “realidade virtual” isto é, o ambiente onde ocorre a interação entre usuário e sistema computacional, criando realidades temporais que provocam a sensação de proximidade de uma pessoa em outro espaço, bem como, para criar realidades fictícias próximas à realidade, o trabalho de dança concebido por Olga Lamas e Giltanei Amorim reverbera complexidade de sentidos ao produzir visualidades superpostas de imagem, corpo, som, objetos, espacialidade, representação, deslocamentos físicos / perceptivos e jogo.
A criação desse trabalho que tinha como objetivo construir-se numa mesma cidade e na relação com outros artistas (que seriam propositores temporários) foi surpreendido pela temporalidade sistêmica burocrática dos editais do estado e teve sua verba atrasada por um ano. Mediante todas as implicações que podem ocorrer num processo criativo sem determinadas garantias, o projeto foi sendo adiado, o que implicou mudanças radicais para os procedimentos criativos de Nó, já que ambos os artistas, priorizando outras atividades em curso tiveram deslocamentos geográficos distintos num mesmo período, Olga viajou para Inglaterra com uma peça durante três meses, e Gil foi para Espanha num intercâmbio artístico acadêmico. Essa condição propôs ao trabalho reajustes quantas estratégias de comunicação, criação e produção, ou seja, tudo seria mediado pela virtualidade e com ela todos os acordos necessários para realização de Nó.
Assim, os parâmetros que configuraram o trabalho eram como um mergulho nas propriedades tecnológicas desse tipo de aparelho, a comunicação via web, com seus delays, atravessamentos e simultaneidades de informações, deram-se como Nós de coerência no trabalho na medida em que formavam conexões entre ação e imagem. Os dançarinos estavam separados por uma tela que funcionava como suporte do corpo, mediação imagética da relação/fusão dos dois corpos, e que era o divisor dos corpos “reais” e ao mesmo tempo lugar comum para o encontro destes em forma de imagem (imagem 1), em cada lado oposto a tela o som soava simultâneo em tempos distintos, produzindo também a sensação de aproximação e distanciamento.
 

Imagem 1

Essa tensão entre virtual “real” é também o campo de diluição tempo espaço do que possa ser ficção “realidade”, é por isso que as propostas “Fake” funcionam tão bem em Nó. O que acontece é que a possibilidade efetiva de significância se dava basicamente nessa fusão de corpos virtuais, era quase impossível tirar os olhos da tela, o que não quer dizer que o “corpo real”, (como chamar aquilo que não é virtual?) não tivesse potencialidade, este era constantemente acessado entre desvios, aproximações ou quando em qualidades um tanto dramáticas como no caso da “figura mascarada” (imagem 2).


Imagem 2
Os “corpos reais” existiam como o campo de tensão daquelas proposições, interessando mais ainda quando de um dos lados do espaço acessava a fusão de dois e de “um terceiro” em consonância, ou ainda quando a magia da imagem como dispositivo não permitia deixar-se desviar da condição de render-se apenas a ela já que ali, no terceiro, uma boca engole um corpo (imagem 3), e não tem como negar, ela está lá, se debatendo em sua garganta negra, ou quando um bonequinho manipulado manipula o gesto do outro pela imagem, uma imagem imprecisa nas definições e fundida numa transparência onde o terceiro elemento pode apresentar-se como único.


Imagem 3
Esse olho da câmera que não é só a mediação, mas, chamaria de campo de tradução, consigna um rendimento dos corpos ao jogo. Um jogo que “transcriava” pela fusão, comunicava pelas conexões, ambientava por imagem corpo. Assim, ver esse trabalho foi uma espécie de epifania* virtual, a tecnologia utilizada de maneira simples e complexa, sem grandes aparatos eletrônicos é que considero a grande sacada de NÓ. Olga e Gil configuraram um esquema de relações inerentes ao “supra lugar” do cyber space, em que os movimentos vão montando aspectos reais-ficcionais, onde a seriedade expressa nos rostos logo se dilui, num riso, numa “careta”, no fim é como se eu enquanto público estivesse em uma das janelas da conversa online, observando de dentro da tela pra fora, de fora da tela para dentro.
Nó potencializa a sensação de pertencimento na emergência de formas e volumes na telepresença, o que torna um diferencial da maioria dos trabalhos de dança com novas tecnologias que já presenciei, os quais apresentam certa frigidez quando o distanciamento se sobrepõe a capacidade de conexão que essas tecnologias possibilitam. Nó me manteve em nós plugados, instalados, conectados de sentidos criativos e visuais.

“essa superexposição atrai nossa atenção na medida em que define a imagem do mundo sem antípodas, sem faces ocultas, onde a opacidade não é nada além de um “interlúdio” passageiro”.
Paul Virilio

* Para citar o companheiro Washington Drummond doutor em urbanismo, quando num seminário público sobre Arte e Cidade disse que teve uma epifania urbana ao se deparar com uma pichação num vidro da estação da lapa apagado no dia seguinte.
Obs: Esse texto dá início a um artigo que está sendo construído em parceria com Ana Sheldon, também mestranda em dança no PPGD – UFBA.

Por Isaura Tupiniquim artista da dança. Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Dança na Universidade Federal da Bahia, e licenciada em dança na mesma instituição.



Abril de 2012


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sobre NÓ_por Leandro Sales


Caracteres que movimentam o corpo
Informação que dilacera a alma:
Alguém aí?
Você me vê?

A distância que me separa
A máquina que me une
Eu sou você
Você me ama?

Engole-me!
Lambe-me!
Funda-se em mim!
Manipula-me!

Café ou cachaça?
Estou tenso
Cheio
Nós.

domingo, 15 de abril de 2012

Videoentrevista com Jacyan

Publicamos o video que a Jacyan produziu para falar sobre sua colaboraçao no Nó. Uma conversa muito gostosa...



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Video-entrevista com Tiago Ribeiro

Já está disponível no Youtube a segunda de uma série de entrevistas que estamos realizando com os artistas colaboradores do projeto.

A seguir, entrevista com Tiago Ribeiro falando sobre sua participação no processo criativo de Nó e outras coisitas más. A entrevista tem 2 partes:





terça-feira, 10 de abril de 2012

Crítica performativa de Leo França sobre NÓ


Por Leo França, em 08 de abril de 2012 - via Facebook:

Convidado pelos artistas Giltanei Amorim e Olga Lamas para produzir uma crítica sobre a obra em processo Nó optei por um modo performativo de buscar outras relações críticas deslocando as intenções normativas de análise e validação da obra para produzir outros sentidos. Em Nó a dramaturgia é organizada através de ações analógico/digitais para ativar a virtualização de um campo comum que produz outras presenças. Comovido pelo trabalho, incorporei alguns objetos afetivos da obra e criei outros gestos analógico/digitais a partir do modo de pensamento e organização que a obra me sugeriu. 

Obrigado Olga e Gil!

Qual a distância necessária que nos une?


O que nos ata nos atos deste nó?

Quem procura além da terra, 
encontrará além do mar. 
Quem além do mar ainda procura, 
encontra terra além do mar.



Nos escapa na velocidade do Skype 
a lentidão do convívio?

Deu branco...

labirinto sonoro


Nó Remix: O que nos ata nos atos deste nó?  



Trilha sonora do espetáculo_by João Meirelles

Nosso queridíssimo João publicou a trilha de NÓ em sua página do SoundCloud. 
Quer ouvir? 
Clique aqui!

Link da transmissão do espetáculo pela internet

Clique aqui para ver a gravação do espetáculo feita no dia 31 de março e transmitida ao vivo pela internet. Pra quem não conseguiu ir ao teatro nos ver em "carne e osso", vale à pena dar uma olhadinha :) Primeira temporada finalizada, que venham agora os novos ares desse nosso experimento!

Fotos da temporada no Teatro do Movimento - Salvador/BA

E para quem não viu (ou viu e quer ver de novo - rá!), algumas fotos tiradas por Aldren Lincoln nas últimas apresentações de nossa temporada no Teatro do Movimento:









E no embalo das imagens, atrevo-me à postar aqui o comentário deixado pela atriz Cecília Moura em nossa página do Facebook:

Por Ci Moura e Joaquim (seu filho) depois de NÓ:

- E aí, filho, como foi o final da peça?

-Ah, você perdeu! Teve aquele boneco de camisa azul.

- E o que você mais gostou de tudo?

- Da morsa de pelúcia, do esojo de lápis de cor e do cara dançando com o boneco no final.

- Hm... Isso que a gente viu foi uma peça de quê? Teatro, dança, vídeo...

- Já sei! Foi um teatrançaídeo!

- E a música?

- Gostei, mas era meio esquisitinha.

Apresentação no Centro Educacional Edgard Santos

E no dia 27 de março fizemos sessão dupla de NÓ no Centro Educacional Edgard Santos. Que maravilha que foi! Que bom descobrir essa instituição de ensino tão bonita, cheia de afeto e dedicação à educação. Nosso muito obrigado ao diretor Jack dos Santos e a todos os professores e alunos que compartilharam de nosso Nó. Pudemos, de fato, experimentar as falhas, interrupções e confusões que a tecnologia pode oferecer. Tudo no balaio, incrementando nossos devaneios criativos. Algumas fotos  das apresentações (por Aldren Lincoln), a seguir: