quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mini Festival De Solos e Coletivos






Estas fotos são da mais recente apresentação do espetáculo, realizada no dia 29.11.12, no Teatro do Movimento - Salvador/BA.

Neste dia experimentamos um novo formato do espetáculo, trazendo elementos de nossos solos para dialogarem via cam ("Inbox" de Gil  e "Sirva-se" de Olga) e compactando o tempo. Liberdade e desejo de experimentar novas possibilidades.

O crédito das fotos é de Jorge Oliveira.

Em 2013 vem mais por aí, com certeza.

domingo, 11 de novembro de 2012

Única apresentação no Festival De Solos e Coletivos



NÓ fará apresentação única dentro do Mini Festival De Solos e Coletivos - II Edição - Salvador!

Quando: 29.11 (quinta-feira), às 19h30
Onde: Teatro do Movimento - Escola de Dança da UFBA
Quanto: R$10 (inteira) e R$5 (meia)

Artigo sobre NÓ


[Ctrl+Z] Realidade virtual e dança

Ana Rizek Sheldon (UFBA)
Isaura Tupiniquim (UFBA)


RESUMO: O presente artigo é um exercício reflexivo através do trabalho de dança de Giltanei Amorim e Olga Lamas. Essa obra apresenta implicações entre aparato tecnológico e corpo. Partimos de nossas respectivas pesquisas de mestrado para analisar a ambiência proposta pelos artistas tendo algumas perguntas como direção: É possível observar como se dá a instauração de conceitos numa composição em dança? Nesse caso, há um conceito de realidade virtual no trabalho? Existe, de fato, um ambiente virtual com especificidades espaço-temporais diferentes daquilo que chamamos de real? Qual a relação entre esse ambiente e o conceito proposto pelos artistas? A partir dessas perguntas e com o pressuposto que o processo criativo da obra se deu á distância, evocamos diversos autores, organizando uma escrita polifônica que se utiliza de diferentes perspectivas teóricas para articular múltiplos pontos de vista sobre o assunto proposto.

Palavras-chave: CORPO; DANÇA; AMBIENTE; CONCEITO; VIRTUALIDADE

RÉSUMÉ: Ce article présente une réflexion sur an spectacle de danse  - Nó - conçu et réalisé par  Giltanei Amorim et Olga Lamas. L’oeuvre nous offre une exposition du rapport entre des dispositifs techologiques et le corps. Notre  point de départ est l´analyse de l’ambience proposée par les deux danseurs et  les questions suivantes qui nous guident peuvent être exposées da la manière suivante: Est-ce que c´est possible observer comment les concepts sont établis dans le contexte d’une composition en danse contemporaine? Dans le cas du spectacle, est-ce qu’il y a un concept de realité virtuelle en scène? Existe-il, en fait, une ambiance virtuel avec différentes caracteristiques par rapport au space-temps qui nous considerons notre ambient réel? Comment pouvons nous penser le concept qui s´établi dans la scène en comparaison à ce ambiance virtuelle? Ainsi, nous évoquons divers auteurs pour organizer une pensée à travers d’une écriture polyphonique par l´usage des divers points de vues sur ce sujet.

Mot-clé: CORPS; DANSE; AMBIANCE; CONCEPT; VIRTUALITÉ.


1. Introdução
Começamos por esclarecer que partimos do trabalho coreográfico de Olga Lamas e Giltanei Amorim¹ para abordar questões que dele suscitam, mas nele não se encerram. Antes de tudo, desdobraremos assuntos para alcançar nossas respectivas pesquisas de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Dança na UFBA.
A primeira coisa que o trabalho propõe, na sua configuração, é a divisão do público em dois grupos, determinada na compra do ingresso. Ao entrar no teatro, vislumbramos um ambiente divido ao meio por uma tela translúcida que também separa os dois artistas em cena.
Logo identificamos que a divisão do público implica algumas conseqüências: a visão do espectador é limitada pela posição em que ele se encontra, ou seja, o que se apreende da obra é necessariamente restrito e essa restrição não se estabelece por uma escolha própria. Dessa maneira, e não à toa, a fronteira proposta pelos artistas cria uma distância, uma diferença entre “aqui” e “lá”, onde ações simultâneas se desenrolavam. 
No discurso construído ao longo do espetáculo, vê-se a relação dos criadores se configurar pela justaposição e composição de imagens de seus corpos, capturadas pela webcam de notebooks - ou produzidas por eles, como textos e vídeos -  projetadas na tela que divide o ambiente. Poucas cenas eram construídas sem a utilização desse recurso e em muitas delas, o aparato tecnológico provocava um atraso entre a ação vista no palco e a imagem da tela. Dessa forma, o espetáculo simula a distância física pela tela translúcida, onde se faz possível a relação entre os corpos em cena.
Será que podemos dizer que essa configuração de dança formula um conceito acerca de um suposto mundo virtual? Como se dá a ver tal conceito e que especificidades ele carrega? Ele possui alguma correspondência com as características técnicas implícitas em um ambiente virtual?
Nossa pretensão não é responder essas perguntas aqui, pois elas abrem um campo bastante amplo para investigação e seria impossível contemplá-lo em um artigo, além de exigirem mais maturidade em nossas respectivas pesquisas. Nesse sentido, elas nortearão nossa reflexão na busca de uma aproximação para questões que nos auxiliem a encontrar um problema central ou perguntas periféricas para nossa trajetória no mestrado.
Na busca pelo que gostaríamos de articular com o espetáculo que vimos, encontramos muitos assuntos que se misturam no imaginário daquilo que comporia contemporaneamente a imersão tecnológica na qual vivemos.

2. Sobre o virtual
A emergência de um espaço virtual não acontece do nada. Dentro do vocabulário que circunda os assuntos ligados à tecnologia, a noção de rede é uma idéia bastante importante. A filósofa Anne Cauquelin (2007) pensa-a como uma malha de interconexões com extensão variável, onde diferentes pontos (que servem como porta de entrada ou saída) podem se ligar. Esses pontos não são aleatórios, embora suas ligações possam tomar rumos imprevistos. Eles possuem endereço, “home page”, fachada e se configuram com fronteiras específicas.
Outro ponto importante colocado pela filósofa é que o ambiente virtual deflagra as condições técnicas para a sua existência que se faz de informações, em códigos numéricos, porém aparecem aos nossos olhos, simulando aspectos do mundo fora dos domínios do computador. Em outras palavras, a vida de tal mundo virtual, não se dá de forma autônoma, mas correlata ao que consideramos real. No entanto, a autora defende que o site (local dentro da rede), é composto de maneira complexa misturando duas lógicas distintas de produzir e compreender espaço: um terceiro entre o geográfico e o abstrato, um híbrido entre espaço e lugar.
Esse local também se configura como um lugar que pertence a alguém ou é impregnado com a identidade de um grupo de pessoas, ao qual é atribuído um sentimento de posse, que aflora a vigilância, denota fixidez, mas que pode ser vendido ou disputado econômica e politicamente. Contudo, a rede também pode se reconfigurar a partir da ação daqueles que a utilizam. A ação dos internautas é o que os torna visíveis e o que pode contrapor a rede à vigilância engendrada nesse ambiente. E ainda, através da interatividade de alguns softwares, o meio pode ser alterado de acordo com a necessidade e direção dada por aquilo que o utilizador quer dizer.
Assim, para Cauquelin (2007) o ambiente virtual se constitui entre o enquadramento preciso e cartográfico do espaço e o sentido e memória atribuídos ao lugar narrado, entre a determinação matemática digital e a incerteza fomentada pela prática dos usuários junto aos programas interativos. De todo modo, o que seria a imersão nesse ambiente ditado por sua funcionalidade? O cyberespaço não pré-existe ao nosso “mergulho” e sem a nossa presença, ele não existiria.
No espetáculo de dança tomado como questão aqui, vemos uma situação sem dependência com a rede, embora a lógica de construção do ambiente aludisse a condições técnicas similares. No entanto, se considerarmos a descrição de Cauquelin acerca do mundo virtual, podemos notar que a situação proposta por Lamas e Amorim, só concretiza um aspecto comum ao do suporte material da virtualidade: a fronteira bidimensional. É como se a materialidade do computador, tivesse gritado às possibilidades de experimentação dos artistas, resignando a materialidade de seus próprios corpos e direcionando a escolha em cena.  
No artigo Um sentido global do lugar (Apud ARANTES org.: 2000), Doreen Massey propõe uma reflexão em torno dos sentidos possíveis de lugar. A questão surge da constatação de que a noção idealizada que prevalecia anteriormente não é mais possível. Essa noção concebia o lugar com fronteiras estáveis, demarcadas através da contraposição com seu exterior, com identidade única da comunidade homogênia que lhe cabia.
O motivo para tal constatação está na evidência de que: aquilo que determina nossa compreensão atualmente está numa complexa gama de informações envolvendo “movimento e a comunicação através do espaço, à extensão geográfica das relações sociais e nossa experiência de tudo isso” (MASSEY apud ARANTES: 2000, p.178). Ou seja, ainda que o ambiente virtual pareça se confinar na bidimensionalidade da tela, nele se engendra outros tipos de relação, sem necessariamente seguir um formato linear. 
A geógrafa defende que o sentido de lugar tem sua importância, se pensado de maneira crítica e tomando o espaço como processo, a se redefinir na medida em que é praticado. Em seu livro Pelo Espaço (2009), ela enfatiza a importância de imaginar o espaço como o local da coexistência de múltiplos, pensando nele como "a dimensão social não no sentido de sociabilidade exclusivamente humana, mas no sentido do envolvimento dentro de uma multiplicidade” (MASSEY: 2009, p.98). De que maneira seria possível encontrar tal multiplicidade em um ambiente virtual?
Talvez chegando a um sentido de local, em que as relações promovidas pelo dispositivo tecnológico estejam em jogo em termos de ação (no âmbito da dança, experimentos apresentados pelo Grupo Cena 11 Cia. De Dança², por exemplo, o espetáculo Embodied Voodoo Game onde não há a representação de tais dispositivos, mas uma maneira de organizar modos transitórios de se mover).
Na configuração de Nó cada artista tinha um diâmetro limitado de ação com objetos escolhidos, identidades circunscritas e, de certa forma, estáveis, sugerindo um pensamento específico de lugar que, ao que discutimos até aqui, não se aproxima de todas as possibilidades encontradas no ambiente virtual, apesar de coerente com o percurso criativo do trabalho e de seus criadores.  
Quando falamos em espaço, o corpo está sempre implicado. Segundo Damásio (2011), a relação corpo/ambiente está desde os princípios de regulação e manutenção da vida de organismos unicelulares até processos complexos relacionados à consciência e á memória. Da mesma maneira, os processos que envolvem a memória pressupõem aqueles que envolvem aprendizagem e imaginação.
Para o autor, a memória de um objeto, por exemplo, surge através de atividades sensitivas e motoras ligadas pela interação entre organismo e objeto por tempo determinado. De acordo com ele, “nossas memórias são preconceituadas, no sentido estrito do termo, pela nossa história e crença prévias” (DAMÁSIO: 2011, p.169). Conseqüentemente, memória fiel e plena de um objeto é algo idealizado e insustentável, o que torna mais plausível a hipótese de que o constante uso de dispositivos tecnológicos para executar tarefas cotidianas ligadas á sociabilidade pode afetar memória, imaginação e aprendizado.
Tal relação não se dá unilateralmente (de forma passiva), ela é baseada em mecanismos de comunicação, ou “mecanismos agregatórios de caráter interativos cujos efeitos se propagam ao longo do tempo” (BRITTO: 2008, p.22) e ocorrem constantemente em resposta à realidade termodinâmica do universo em que vivemos.
Além disso, “tal dinâmica relacional é geradora de diferenças que caracterizam uma mudança na circunstância de onde emergem” (Ibidem: p.23). A ocorrência dessas diferenças não obedece a uma lógica linear, mas resultam de processos ditos “contaminatórios”, de modo que nem sempre é possível identificar causa e efeito, devido ao sentido irreversível do tempo.

3. Do conceito
– Aqui está o aparato, eu sou o aparato!
Bertold Brecht

Como se afastar das funções? O conceito para Deleuze existe em relação a um problema em forma de pensamento sobre nossa história e devires do tempo. O conceito não adjetiva, é acontecimento. Daí pensar quais conceitos estão para o nosso tempo requer a imediata associação da vida contemporânea à virtualidade, condição que media nosso cotidiano no tempo/espaço, e conseqüentemente, modifica a emergência de conceitos filosóficos nesse mesmo tempo, que para Deleuze não equivale a uma função.
No caso da dança, o conceito não se firmaria como pressuposto para alguma coisa, ele permeia as ideias e as ações que expostas num plano, não conforma a sucessão ou encadeamento de conclusões como na ciência. Daí pensar como a dança se aproxima dessa criação de conceitos é considerar como o corpo na dança organiza o pensamento na criação de maneira que a produção de perceptos e afectos ou bloco de sensações, que segundo Deleuze é da competência da arte, não se desassocia da conformação de conceitos no/para o mundo.  
É como se durante um processo criativo que não se sabe onde começa nem onde termina, mas se percebe o caminho e os desvios possíveis, se formem “dispositivos” que tendem a continuidade. Assim como os conceitos na filosofia são maleáveis em relação às mudanças do tempo, alguns procedimentos em dança se dão numa continuidade de pensamento, como no caso dos trabalhos de Vera Sala³ dentre outros artistas da dança.
Imaginemos que numa configuração um artista desenvolvesse determinadas questões até certo ponto e novas condições, problematizações vão se instaurando no processo para transbordar em outros conceitos e logo outras configurações em dança que não abandonam aquela anterior.
Chegamos aqui numa breve reflexão sobre o que estamos chamando a algum tempo de pesquisa artística em dança, que não se formula apenas numa funcionalidade acadêmica, mas que desestabiliza e reconfigura perspectivas de tempo-espaço-política, ao tempo que cria e conceitua o “bloco de sensações” que emergem desse plano.
Greiner no seu livro O corpo (2006), apresenta uma série de estudos, entre eles, a pesquisa de Lakoff e Johnson para dizer que “os mesmos mecanismos neuronais e cognitivos que nos permitem perceber e mover são os que criam nossos sistemas conceituais e modos da razão” (GREINER: 2006, p.45). A autora afirma que nosso sistema conceitual é metafórico por natureza. A capacidade da arte em desestabilizar conceitos pode ser vista como a maneira pela qual a mesma também conceitua determinados acontecimentos no mundo, estando o corpo do artista envolto em “mudanças sucessivas de estados de corpo” (ibdem, p.36).
Poderia dizer então que, o corpo desenvolve na sua dança procedimentos que articulam as experiências, indagações sobre um contexto e imprime um jeito de apreensão de determinada condição do mundo contemporâneo, e assim instaura um conceito temporário? Aquilo que o instiga a ação e composição ganharia, portanto o aspecto de pesquisa numa criação em dança, onde a recorrência de conceitos sobre o mundo numa certa especificidade deste irá configurar uma série de imagens.
As configurações em dança, não como acontecimento, mas como um campo de instauração de ideias maleáveis, conjuga a experiência, conceitos e criação metafórica para elaboração de imagens e ações. Ela não formula conceitos numa linearidade de significância, ela joga com eles dando novos sentidos, pois eles não aparecem na sua concretude ou definição, mas no entre que é o fluxo de atribuições que um conceito necessita para existir.
Assim, a dança possibilita na construção de ambientes, configuração de corporalidades e no discurso, outro tipo de formulação de conceitos que não aquele da filosofia Deleuziana.  Ela carrega em si, na produção de afetos e perceptos um jogo conceitual que não se afasta da condição “contaminatória” da relação do corpo com o pensamento filosófico em alguma instância. Os conceitos tomam outras dimensões, suas características podem estar no jeito como determinada obra foi configurada, e qualquer fidelidade/correspondência é certamente impossível de existir visto que dança não é filosofia.
Com o pressuposto de que a dança se desenvolve na relação com conceitos e pode ou não desestabilizá-los, esta seria talvez uma das formas de estudar como suceda uma pesquisa artística.

4. Esquema para acessar
O projeto dos artistas propunha um processo experimental para chegar num espetáculo de dança, de forma que o trabalho não fosse delimitado por um tema prévio cerceando questões durante os procedimentos criativos. A ideia dos criadores era se lançar numa desestabilização provocada no encontro com a proposição de outros artistas, inspirados na noção de entropia.
Por mais que o projeto tenha surgido sob o desejo de proceder num caráter experimental, a trajetória dos criadores impôs a condição de trabalharem remotamente, via web. A partir disso, seria necessário então, formular estratégias para experimentar dentro do ambiente virtual e se desvencilhar os paradigmas eleitos pelo senso-comum a esse respeito. A imposição dessa circunstância parece ter desestabilizado o ponto de partida do projeto de tal maneira que, foi preciso tomá-la como tema, mesmo que isso fosse contra a ideia inicial de um processo experimental.
Para ser experimental, uma obra de dança deve trazer essa característica tanto em seu processo como em sua configuração? O que determina tal característica será a ausência de conformações prévias, fronteiras definidas, cenas resolvidas?
Identificamos na configuração “final” do espetáculo, a circunstância da mediação virtual como temática, de modo que as cenas trabalhavam com qualidades facilmente reconhecíveis daquele ambiente, mas não mostravam um questionamento que aproximasse a experimentação pretendida com uma hipótese a ser testada em forma de ação do corpo que dança. Sugerimos que a existência de conceitos numa configuração de dança está necessariamente atrelada à instabilidade, pois é precisamente na sua reformulação no corpo que se manifesta como acontecimento.
Tanto em Deleuze (1992) como para Lakoff e Johnson (Apud. GREINER, 2006, p. 44) conceito e ação são indissociáveis. Enquanto o primeiro diz que conceito é acontecimento (entendemos que acontecimento se dá em ação levando ao movimento), a dupla de lingüistas afirma que os conceitos não são apenas matéria do intelecto, mas governam nossas funções cotidianas e ações mais mundanas. Como a dança não é filosofia, nossa preocupação é pensar como o conceito se manifesta em linguagem de dança.
É importante diferenciar os pressupostos que definem conceito na filosofia, na linguística ou na arte, pois para Deleuze o bloco de sensações que a arte produz pode servir de matéria para criação de conceitos, mas o contrário não aconteceria. Todavia, Greiner afirma que metáfora não é só figura de linguagem, que quando conceituamos transportamos informações de natureza metafórica.
Assim, estas informações se manifestam tanto na produção de conceitos filosóficos, como nos conceitos emergentes em processos criativos artísticos. Contudo, isso não significa que não haja especificidades, pois eles acontecem por operações distintas. Os conceitos estariam para arte da mesma forma que a arte estaria para os conceitos, enquanto ação metafórica do corpo. Ações diferentes engendram conceitos distintos.
Daí ocorre que no trabalho de dança tudo se torna representação de uma função onde a irreversibilidade das ações se preserva em meio à reversibilidade fragmentária da máquina. O tema como paradigma não propõe a desestabilização do sistema dança enquanto configuração. De modo que seria pertinente pensar que a dança e os conceitos apresentam uma elasticidade enquanto possibilidade experimental para reconfiguração dos mesmos num processo de criação que se afirma na instabilidade. Estamos falando de sistemas dinâmicos.
A trans-aparência, fruto da ampliação ótica do meio natural do homem, para Paul Virilio, ocorre enquanto degradação do homem no ambiente, assim ele afirma que “haveria, portanto, uma dimensão oculta da revolução das comunicações que afeta a duração, o tempo vivido de nossas sociedades” (VIRILIO, 1993, p.106) Com ou sem uma predisposição apocalíptica como a desse autor, o que dizer de um processo criativo em dança criado no ambiente virtual? Qual a temporalidade dessa criação? O ambiente criativo tornou-se espaço crítico além de tema? E ainda, o que isso apresenta enquanto política da ação como conceito?

Notas

1. Olga Lamas é atriz, dançarina, arte-educadora e produtora graduada no curso de Teatro da UFBA. Giltanei Amorim é diretor, dançarino, videoartista e produtor licenciado em dança pela UFBA. Mais informações sobre os artistas e sobre o projeto em: http://projetono.blogspot.com.br/2012/01/sobre-os-artistas-propositores_11.html (acessado em 31 de agosto de 2012).

2. O Grupo Cena 11 Cia. De Dança tem sede em Florianópolis - SC  e é voltado para pesquisa e formação em dança. Para mais informações acerca do grupo ou do espetáculo mencionado acima: http://www.cena11.com.br/blog/2011/07/pesquisa-condicionamento-fisico-criacao-artistica-registro-11/ (acessado em 31 de agosto de 2012).

3. Vera Sala pesquisadora e criadora em dança, desenvolve trabalhos desde 1987. Para mais informações sobre a artista: http://nucleoverasala.com.br/vera-sala/ (acessado em 31 de agosto de 2012).

Referências
- BRITTO, Fabiana. Temporalidade em dança: parâmetros para uma história contemporânea. – Belo Horizonte: FID Editorial, 2008;
- CAUQUELIN, Anne. Le Site et Le Paysage. – France: Quadrige/PUF, 2007;
- DAMÁSIO, António R. E o cérebro criou o homem. – São Paulo: Companhia das Letras, 2011;
- DELEUZE, Guilles; GUATARRI, Felix. O que é Filosofia? – Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992;
- GREINER, Christine. O Corpo: Pistas para estudos indisciplinares. – São Paulo: Ed. Annablume, 2005;
- MASSEY, Doreen B. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009;
- MASSEY, Doreen B. “O sentido global de lugar” in: Arantes, Antonio A. (org) – O espaço da diferença, Campinas: Ed. Papirus, 2000;
- VIRILIO, Paul. O Espaço Crítico. – Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993;

- http://nucleoverasala.com.br/vera-sala/ (acessado em 31 de agosto de 2012).


Entrevista de Laura Pacheco

Mais umA videoentrevista sobre o processo criativo de Nó. 
Com a artista colaboradora Laura Pacheco:


Entrevista de Daniela Guimarães

Dá uma olhada na video-entrevista de Dani Guimarães, nossa colaboradora em Nó:

terça-feira, 10 de julho de 2012

Imagens do Scratxe Undergound no Montehermoso

Vídeo com imagens dos trabalhos que foram apresentados no Montehermoso, em Vitoria-Gasteiz, dentro do Festival Scratxe Underground Brasil, incluindo NÓ:


Este festival é uma realização do Coletivo Quitanda em parceria com Factoría de Fuegos e Acción!MAD.

Ensayo en español

Imagens de nosso ensaio-experimento em Vitoria-Gasteiz:

Nós nas publicações espanholas

Algumas das matérias de jornais e sites espanhóis com informações de NÓ, no Festival Scratxe Undergound Brasil:







Festival Scratxe Underground Brasil


Apresentações do espetáculo na Espanha! 
Confira a programação do Festival. 
Mais informações clique aqui.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Texto de Isaura Tupiniquim sobre o Nó

Temos o prazer de publicar o texto de Isaura Tupiniquim sobre o espetáculo Nó.
Isaura é artista e mestranda do Programa de Pós-Graduaçao em Dança da UFBA.
Segue o texto:


Nó. Uma dança em imediação remota

Mostrando-se como “realidade virtual” isto é, o ambiente onde ocorre a interação entre usuário e sistema computacional, criando realidades temporais que provocam a sensação de proximidade de uma pessoa em outro espaço, bem como, para criar realidades fictícias próximas à realidade, o trabalho de dança concebido por Olga Lamas e Giltanei Amorim reverbera complexidade de sentidos ao produzir visualidades superpostas de imagem, corpo, som, objetos, espacialidade, representação, deslocamentos físicos / perceptivos e jogo.
A criação desse trabalho que tinha como objetivo construir-se numa mesma cidade e na relação com outros artistas (que seriam propositores temporários) foi surpreendido pela temporalidade sistêmica burocrática dos editais do estado e teve sua verba atrasada por um ano. Mediante todas as implicações que podem ocorrer num processo criativo sem determinadas garantias, o projeto foi sendo adiado, o que implicou mudanças radicais para os procedimentos criativos de Nó, já que ambos os artistas, priorizando outras atividades em curso tiveram deslocamentos geográficos distintos num mesmo período, Olga viajou para Inglaterra com uma peça durante três meses, e Gil foi para Espanha num intercâmbio artístico acadêmico. Essa condição propôs ao trabalho reajustes quantas estratégias de comunicação, criação e produção, ou seja, tudo seria mediado pela virtualidade e com ela todos os acordos necessários para realização de Nó.
Assim, os parâmetros que configuraram o trabalho eram como um mergulho nas propriedades tecnológicas desse tipo de aparelho, a comunicação via web, com seus delays, atravessamentos e simultaneidades de informações, deram-se como Nós de coerência no trabalho na medida em que formavam conexões entre ação e imagem. Os dançarinos estavam separados por uma tela que funcionava como suporte do corpo, mediação imagética da relação/fusão dos dois corpos, e que era o divisor dos corpos “reais” e ao mesmo tempo lugar comum para o encontro destes em forma de imagem (imagem 1), em cada lado oposto a tela o som soava simultâneo em tempos distintos, produzindo também a sensação de aproximação e distanciamento.
 

Imagem 1

Essa tensão entre virtual “real” é também o campo de diluição tempo espaço do que possa ser ficção “realidade”, é por isso que as propostas “Fake” funcionam tão bem em Nó. O que acontece é que a possibilidade efetiva de significância se dava basicamente nessa fusão de corpos virtuais, era quase impossível tirar os olhos da tela, o que não quer dizer que o “corpo real”, (como chamar aquilo que não é virtual?) não tivesse potencialidade, este era constantemente acessado entre desvios, aproximações ou quando em qualidades um tanto dramáticas como no caso da “figura mascarada” (imagem 2).


Imagem 2
Os “corpos reais” existiam como o campo de tensão daquelas proposições, interessando mais ainda quando de um dos lados do espaço acessava a fusão de dois e de “um terceiro” em consonância, ou ainda quando a magia da imagem como dispositivo não permitia deixar-se desviar da condição de render-se apenas a ela já que ali, no terceiro, uma boca engole um corpo (imagem 3), e não tem como negar, ela está lá, se debatendo em sua garganta negra, ou quando um bonequinho manipulado manipula o gesto do outro pela imagem, uma imagem imprecisa nas definições e fundida numa transparência onde o terceiro elemento pode apresentar-se como único.


Imagem 3
Esse olho da câmera que não é só a mediação, mas, chamaria de campo de tradução, consigna um rendimento dos corpos ao jogo. Um jogo que “transcriava” pela fusão, comunicava pelas conexões, ambientava por imagem corpo. Assim, ver esse trabalho foi uma espécie de epifania* virtual, a tecnologia utilizada de maneira simples e complexa, sem grandes aparatos eletrônicos é que considero a grande sacada de NÓ. Olga e Gil configuraram um esquema de relações inerentes ao “supra lugar” do cyber space, em que os movimentos vão montando aspectos reais-ficcionais, onde a seriedade expressa nos rostos logo se dilui, num riso, numa “careta”, no fim é como se eu enquanto público estivesse em uma das janelas da conversa online, observando de dentro da tela pra fora, de fora da tela para dentro.
Nó potencializa a sensação de pertencimento na emergência de formas e volumes na telepresença, o que torna um diferencial da maioria dos trabalhos de dança com novas tecnologias que já presenciei, os quais apresentam certa frigidez quando o distanciamento se sobrepõe a capacidade de conexão que essas tecnologias possibilitam. Nó me manteve em nós plugados, instalados, conectados de sentidos criativos e visuais.

“essa superexposição atrai nossa atenção na medida em que define a imagem do mundo sem antípodas, sem faces ocultas, onde a opacidade não é nada além de um “interlúdio” passageiro”.
Paul Virilio

* Para citar o companheiro Washington Drummond doutor em urbanismo, quando num seminário público sobre Arte e Cidade disse que teve uma epifania urbana ao se deparar com uma pichação num vidro da estação da lapa apagado no dia seguinte.
Obs: Esse texto dá início a um artigo que está sendo construído em parceria com Ana Sheldon, também mestranda em dança no PPGD – UFBA.

Por Isaura Tupiniquim artista da dança. Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Dança na Universidade Federal da Bahia, e licenciada em dança na mesma instituição.



Abril de 2012


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sobre NÓ_por Leandro Sales


Caracteres que movimentam o corpo
Informação que dilacera a alma:
Alguém aí?
Você me vê?

A distância que me separa
A máquina que me une
Eu sou você
Você me ama?

Engole-me!
Lambe-me!
Funda-se em mim!
Manipula-me!

Café ou cachaça?
Estou tenso
Cheio
Nós.

domingo, 15 de abril de 2012

Videoentrevista com Jacyan

Publicamos o video que a Jacyan produziu para falar sobre sua colaboraçao no Nó. Uma conversa muito gostosa...



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Video-entrevista com Tiago Ribeiro

Já está disponível no Youtube a segunda de uma série de entrevistas que estamos realizando com os artistas colaboradores do projeto.

A seguir, entrevista com Tiago Ribeiro falando sobre sua participação no processo criativo de Nó e outras coisitas más. A entrevista tem 2 partes:





terça-feira, 10 de abril de 2012

Crítica performativa de Leo França sobre NÓ


Por Leo França, em 08 de abril de 2012 - via Facebook:

Convidado pelos artistas Giltanei Amorim e Olga Lamas para produzir uma crítica sobre a obra em processo Nó optei por um modo performativo de buscar outras relações críticas deslocando as intenções normativas de análise e validação da obra para produzir outros sentidos. Em Nó a dramaturgia é organizada através de ações analógico/digitais para ativar a virtualização de um campo comum que produz outras presenças. Comovido pelo trabalho, incorporei alguns objetos afetivos da obra e criei outros gestos analógico/digitais a partir do modo de pensamento e organização que a obra me sugeriu. 

Obrigado Olga e Gil!

Qual a distância necessária que nos une?


O que nos ata nos atos deste nó?

Quem procura além da terra, 
encontrará além do mar. 
Quem além do mar ainda procura, 
encontra terra além do mar.



Nos escapa na velocidade do Skype 
a lentidão do convívio?

Deu branco...

labirinto sonoro


Nó Remix: O que nos ata nos atos deste nó?  



Trilha sonora do espetáculo_by João Meirelles

Nosso queridíssimo João publicou a trilha de NÓ em sua página do SoundCloud. 
Quer ouvir? 
Clique aqui!

Link da transmissão do espetáculo pela internet

Clique aqui para ver a gravação do espetáculo feita no dia 31 de março e transmitida ao vivo pela internet. Pra quem não conseguiu ir ao teatro nos ver em "carne e osso", vale à pena dar uma olhadinha :) Primeira temporada finalizada, que venham agora os novos ares desse nosso experimento!

Fotos da temporada no Teatro do Movimento - Salvador/BA

E para quem não viu (ou viu e quer ver de novo - rá!), algumas fotos tiradas por Aldren Lincoln nas últimas apresentações de nossa temporada no Teatro do Movimento:









E no embalo das imagens, atrevo-me à postar aqui o comentário deixado pela atriz Cecília Moura em nossa página do Facebook:

Por Ci Moura e Joaquim (seu filho) depois de NÓ:

- E aí, filho, como foi o final da peça?

-Ah, você perdeu! Teve aquele boneco de camisa azul.

- E o que você mais gostou de tudo?

- Da morsa de pelúcia, do esojo de lápis de cor e do cara dançando com o boneco no final.

- Hm... Isso que a gente viu foi uma peça de quê? Teatro, dança, vídeo...

- Já sei! Foi um teatrançaídeo!

- E a música?

- Gostei, mas era meio esquisitinha.

Apresentação no Centro Educacional Edgard Santos

E no dia 27 de março fizemos sessão dupla de NÓ no Centro Educacional Edgard Santos. Que maravilha que foi! Que bom descobrir essa instituição de ensino tão bonita, cheia de afeto e dedicação à educação. Nosso muito obrigado ao diretor Jack dos Santos e a todos os professores e alunos que compartilharam de nosso Nó. Pudemos, de fato, experimentar as falhas, interrupções e confusões que a tecnologia pode oferecer. Tudo no balaio, incrementando nossos devaneios criativos. Algumas fotos  das apresentações (por Aldren Lincoln), a seguir: