[Ctrl+Z] Realidade virtual e
dança
Ana Rizek
Sheldon (UFBA)
Isaura
Tupiniquim (UFBA)
RESUMO: O presente artigo é um exercício
reflexivo através do trabalho de dança Nó
de Giltanei Amorim e Olga Lamas. Essa obra apresenta
implicações entre aparato tecnológico e corpo. Partimos de nossas respectivas
pesquisas de mestrado para analisar a ambiência proposta pelos artistas tendo
algumas perguntas como direção: É possível observar como se dá a instauração de
conceitos numa composição em dança? Nesse caso, há um conceito de realidade
virtual no trabalho? Existe, de fato, um ambiente virtual com especificidades
espaço-temporais diferentes daquilo que chamamos de real? Qual a relação entre
esse ambiente e o conceito proposto pelos artistas? A partir dessas perguntas e
com o pressuposto que o processo criativo da obra se deu á distância, evocamos
diversos autores, organizando uma escrita polifônica que se utiliza de
diferentes perspectivas teóricas para articular múltiplos pontos de vista sobre
o assunto proposto.
Palavras-chave: CORPO; DANÇA; AMBIENTE;
CONCEITO; VIRTUALIDADE
RÉSUMÉ: Ce article présente une réflexion sur an spectacle de danse - Nó - conçu et réalisé par Giltanei Amorim et Olga Lamas. L’oeuvre nous offre une
exposition du rapport entre des dispositifs techologiques et le corps.
Notre point de départ est l´analyse de
l’ambience proposée par les deux danseurs et
les questions suivantes qui nous guident peuvent être exposées da la
manière suivante: Est-ce que c´est possible observer comment les concepts sont
établis dans le contexte d’une composition en danse contemporaine? Dans le cas
du spectacle, est-ce qu’il y a un concept de realité virtuelle en scène?
Existe-il, en fait, une ambiance virtuel avec différentes caracteristiques par
rapport au space-temps qui nous considerons notre ambient réel? Comment pouvons
nous penser le concept qui s´établi dans la scène en comparaison à ce ambiance
virtuelle? Ainsi, nous évoquons divers auteurs pour organizer une pensée à
travers d’une écriture polyphonique par l´usage des divers points de vues sur
ce sujet.
Mot-clé:
CORPS; DANSE; AMBIANCE; CONCEPT; VIRTUALITÉ.
1. Introdução
Começamos por esclarecer que partimos do trabalho
coreográfico Nó de Olga Lamas e
Giltanei Amorim¹ para abordar questões que dele suscitam, mas nele não se
encerram. Antes de tudo, desdobraremos assuntos para alcançar nossas respectivas
pesquisas de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Dança na UFBA.
A primeira coisa que o trabalho Nó propõe, na sua configuração, é a
divisão do público em dois grupos, determinada na compra do ingresso. Ao entrar
no teatro, vislumbramos um ambiente divido ao meio por uma tela translúcida que
também separa os dois artistas em cena.
Logo identificamos que a divisão do público implica
algumas conseqüências: a visão do espectador é limitada pela posição em que ele
se encontra, ou seja, o que se apreende da obra é necessariamente restrito e
essa restrição não se estabelece por uma escolha própria. Dessa maneira, e não
à toa, a fronteira proposta pelos artistas cria uma distância, uma diferença
entre “aqui” e “lá”, onde ações simultâneas se desenrolavam.
No discurso construído ao longo do espetáculo,
vê-se a relação dos criadores se configurar pela justaposição e composição de
imagens de seus corpos, capturadas pela webcam de notebooks - ou produzidas por
eles, como textos e vídeos - projetadas na
tela que divide o ambiente. Poucas cenas eram construídas sem a utilização
desse recurso e em muitas delas, o aparato tecnológico provocava um atraso
entre a ação vista no palco e a imagem da tela. Dessa forma, o espetáculo
simula a distância física pela tela translúcida, onde se faz possível a relação
entre os corpos em cena.
Será que podemos dizer que essa configuração de
dança formula um conceito acerca de um suposto mundo virtual? Como se dá a ver
tal conceito e que especificidades ele carrega? Ele possui alguma
correspondência com as características técnicas implícitas em um ambiente
virtual?
Nossa pretensão não é responder essas perguntas
aqui, pois elas abrem um campo bastante amplo para investigação e seria
impossível contemplá-lo em um artigo, além de exigirem mais maturidade em
nossas respectivas pesquisas. Nesse sentido, elas nortearão nossa reflexão na
busca de uma aproximação para questões que nos auxiliem a encontrar um problema
central ou perguntas periféricas para nossa trajetória no mestrado.
Na busca pelo que gostaríamos de articular com o
espetáculo que vimos, encontramos muitos assuntos que se misturam no imaginário
daquilo que comporia contemporaneamente a imersão tecnológica na qual vivemos.
2. Sobre
o virtual
A emergência de um espaço virtual não acontece do
nada. Dentro do vocabulário que circunda os assuntos ligados à tecnologia, a
noção de rede é uma idéia bastante importante. A filósofa Anne Cauquelin (2007)
pensa-a como uma malha de interconexões com extensão variável, onde diferentes
pontos (que servem como porta de entrada ou saída) podem se ligar. Esses pontos
não são aleatórios, embora suas ligações possam tomar rumos imprevistos. Eles
possuem endereço, “home page”, fachada e se configuram com fronteiras
específicas.
Outro ponto importante colocado pela filósofa é que
o ambiente virtual deflagra as condições técnicas para a sua existência que se
faz de informações, em códigos numéricos, porém aparecem aos nossos olhos,
simulando aspectos do mundo fora dos domínios do computador. Em outras
palavras, a vida de tal mundo virtual, não se dá de forma autônoma, mas
correlata ao que consideramos real. No entanto, a autora defende que o site
(local dentro da rede), é composto de maneira complexa misturando duas lógicas
distintas de produzir e compreender espaço: um terceiro entre o geográfico e o
abstrato, um híbrido entre espaço e lugar.
Esse local também se configura como um lugar que
pertence a alguém ou é impregnado com a identidade de um grupo de pessoas, ao
qual é atribuído um sentimento de posse, que aflora a vigilância, denota
fixidez, mas que pode ser vendido ou disputado econômica e politicamente. Contudo,
a rede também pode se reconfigurar a partir da ação daqueles que a utilizam. A
ação dos internautas é o que os torna visíveis e o que pode contrapor a rede à
vigilância engendrada nesse ambiente. E
ainda, através da interatividade de alguns softwares, o meio pode ser alterado
de acordo com a necessidade e direção dada por aquilo que o utilizador quer
dizer.
Assim, para Cauquelin (2007) o ambiente virtual se
constitui entre o enquadramento preciso e cartográfico do espaço e o sentido e
memória atribuídos ao lugar narrado, entre a determinação matemática digital e
a incerteza fomentada pela prática dos usuários junto aos programas interativos.
De todo modo, o que seria a imersão nesse ambiente ditado por sua
funcionalidade? O cyberespaço não pré-existe ao nosso “mergulho” e sem a nossa
presença, ele não existiria.
No espetáculo de dança tomado como questão aqui,
vemos uma situação sem dependência com a rede, embora a lógica de construção do
ambiente aludisse a condições técnicas similares. No entanto, se considerarmos
a descrição de Cauquelin acerca do mundo virtual, podemos notar que a situação
proposta por Lamas e Amorim, só concretiza um aspecto comum ao do suporte
material da virtualidade: a fronteira bidimensional. É como se a materialidade
do computador, tivesse gritado às possibilidades de experimentação dos
artistas, resignando a materialidade de seus próprios corpos e direcionando a
escolha em cena.
No artigo Um
sentido global do lugar (Apud ARANTES org.: 2000), Doreen Massey propõe uma
reflexão em torno dos sentidos possíveis de lugar. A questão surge da
constatação de que a noção idealizada que prevalecia anteriormente não é mais
possível. Essa noção concebia o lugar com fronteiras estáveis, demarcadas
através da contraposição com seu exterior, com identidade única da comunidade
homogênia que lhe cabia.
O motivo para tal constatação está na evidência de
que: aquilo que determina nossa compreensão atualmente está numa complexa gama
de informações envolvendo “movimento e a comunicação através do espaço, à
extensão geográfica das relações sociais e nossa experiência de tudo isso”
(MASSEY apud ARANTES: 2000, p.178). Ou seja,
ainda que o ambiente virtual pareça se confinar na bidimensionalidade da tela,
nele se engendra outros tipos de relação, sem necessariamente seguir um formato
linear.
A geógrafa defende que o sentido de lugar tem sua
importância, se pensado de maneira crítica e tomando o espaço como processo, a
se redefinir na medida em que é praticado. Em seu livro Pelo Espaço (2009), ela enfatiza a importância de imaginar o espaço
como o local da coexistência de múltiplos, pensando nele como "a dimensão
social não no sentido de sociabilidade exclusivamente humana, mas no sentido do
envolvimento dentro de uma multiplicidade” (MASSEY: 2009, p.98). De que maneira
seria possível encontrar tal multiplicidade em um ambiente virtual?
Talvez chegando a um sentido de local, em que as
relações promovidas pelo dispositivo tecnológico estejam em jogo em termos de
ação (no âmbito da dança, experimentos apresentados pelo Grupo Cena 11 Cia. De
Dança², por exemplo, o espetáculo Embodied Voodoo Game onde não há a
representação de tais dispositivos, mas uma maneira de organizar modos
transitórios de se mover).
Na configuração de Nó cada artista tinha um
diâmetro limitado de ação com objetos escolhidos, identidades circunscritas e,
de certa forma, estáveis, sugerindo um pensamento específico de lugar que, ao
que discutimos até aqui, não se aproxima de todas as possibilidades encontradas
no ambiente virtual, apesar de coerente com o percurso criativo do trabalho e
de seus criadores.
Quando falamos em espaço, o corpo está sempre
implicado. Segundo Damásio (2011), a relação corpo/ambiente está desde os
princípios de regulação e manutenção da vida de organismos unicelulares até
processos complexos relacionados à consciência e á memória. Da mesma maneira, os
processos que envolvem a memória pressupõem aqueles que envolvem aprendizagem e
imaginação.
Para o autor, a memória de um objeto, por exemplo,
surge através de atividades sensitivas e motoras ligadas pela interação entre
organismo e objeto por tempo determinado. De acordo com ele, “nossas memórias
são preconceituadas, no sentido
estrito do termo, pela nossa história e crença prévias” (DAMÁSIO: 2011, p.169).
Conseqüentemente, memória fiel e plena de um objeto é algo idealizado e
insustentável, o que torna mais plausível a hipótese de que o constante uso de
dispositivos tecnológicos para executar tarefas cotidianas ligadas á
sociabilidade pode afetar memória, imaginação e aprendizado.
Tal relação não se dá unilateralmente (de forma
passiva), ela é baseada em mecanismos de comunicação, ou “mecanismos
agregatórios de caráter interativos cujos efeitos se propagam ao longo do
tempo” (BRITTO: 2008, p.22) e ocorrem constantemente em resposta à realidade
termodinâmica do universo em que vivemos.
Além disso, “tal dinâmica relacional é geradora de
diferenças que caracterizam uma mudança na circunstância de onde emergem”
(Ibidem: p.23). A ocorrência dessas diferenças não obedece a uma lógica linear,
mas resultam de processos ditos “contaminatórios”, de modo que nem sempre é
possível identificar causa e efeito, devido ao sentido irreversível do tempo.
3. Do
conceito
– Aqui está o aparato, eu sou o
aparato!
Bertold Brecht
Como
se afastar das funções? O conceito para Deleuze existe em relação a um problema
em forma de pensamento sobre nossa história e devires do tempo. O conceito não
adjetiva, é acontecimento. Daí pensar quais conceitos estão para o nosso tempo
requer a imediata associação da vida contemporânea à virtualidade, condição que
media nosso cotidiano no tempo/espaço, e conseqüentemente, modifica a emergência
de conceitos filosóficos nesse mesmo tempo, que para Deleuze não equivale a uma
função.
No
caso da dança, o conceito não se firmaria como pressuposto para alguma coisa,
ele permeia as ideias e as ações que expostas num plano, não conforma a sucessão
ou encadeamento de conclusões como na ciência. Daí pensar como a dança se
aproxima dessa criação de conceitos é considerar como o corpo na dança organiza
o pensamento na criação de maneira que a produção de perceptos e afectos ou bloco de sensações, que segundo Deleuze
é da competência da arte, não se desassocia da conformação de conceitos no/para
o mundo.
É
como se durante um processo criativo que não se sabe onde começa nem onde
termina, mas se percebe o caminho e os desvios possíveis, se formem “dispositivos”
que tendem a continuidade. Assim como os conceitos na filosofia são maleáveis
em relação às mudanças do tempo, alguns procedimentos em dança se dão numa
continuidade de pensamento, como no caso dos trabalhos de Vera Sala³ dentre outros
artistas da dança.
Imaginemos
que numa configuração um artista desenvolvesse determinadas questões até certo
ponto e novas condições, problematizações vão se instaurando no processo para
transbordar em outros conceitos e logo outras configurações em dança que não abandonam
aquela anterior.
Chegamos
aqui numa breve reflexão sobre o que estamos chamando a algum tempo de pesquisa
artística em dança, que não se formula apenas numa funcionalidade acadêmica,
mas que desestabiliza e reconfigura perspectivas de tempo-espaço-política, ao
tempo que cria e conceitua o “bloco de sensações” que emergem desse plano.
Greiner
no seu livro O corpo (2006),
apresenta uma série de estudos, entre eles, a pesquisa de Lakoff e Johnson para
dizer que “os mesmos mecanismos neuronais
e cognitivos que nos permitem perceber e mover são os que criam nossos sistemas
conceituais e modos da razão” (GREINER: 2006, p.45). A autora afirma que
nosso sistema conceitual é metafórico por natureza. A capacidade da arte em
desestabilizar conceitos pode ser vista como a maneira pela qual a mesma também
conceitua determinados acontecimentos no mundo, estando o corpo do artista
envolto em “mudanças sucessivas de
estados de corpo” (ibdem, p.36).
Poderia
dizer então que, o corpo desenvolve na sua dança procedimentos que articulam as
experiências, indagações sobre um contexto e imprime um jeito de apreensão de
determinada condição do mundo contemporâneo, e assim instaura um conceito
temporário? Aquilo que o instiga a ação e composição ganharia, portanto o aspecto
de pesquisa numa criação em dança, onde a recorrência de conceitos sobre o
mundo numa certa especificidade deste irá configurar uma série de imagens.
As configurações em dança, não como acontecimento,
mas como um campo de instauração de ideias maleáveis, conjuga a experiência,
conceitos e criação metafórica para elaboração de imagens e ações. Ela não
formula conceitos numa linearidade de significância, ela joga com eles dando
novos sentidos, pois eles não aparecem na sua concretude ou definição, mas no
entre que é o fluxo de atribuições que um conceito necessita para existir.
Assim, a
dança possibilita na construção de ambientes, configuração de corporalidades e
no discurso, outro tipo de formulação de conceitos que não aquele da filosofia
Deleuziana. Ela carrega em si, na
produção de afetos e perceptos um jogo conceitual que não se
afasta da condição “contaminatória” da relação do corpo com o pensamento
filosófico em alguma instância. Os conceitos tomam outras dimensões, suas
características podem estar no jeito como determinada obra foi configurada, e
qualquer fidelidade/correspondência é certamente impossível de existir visto
que dança não é filosofia.
Com o
pressuposto de que a dança se desenvolve na relação com conceitos e pode ou não
desestabilizá-los, esta seria talvez uma das formas de estudar como suceda uma
pesquisa artística.
4. Esquema para acessar Nó
O
projeto dos artistas propunha um processo experimental para chegar num
espetáculo de dança, de forma que o trabalho não fosse delimitado por um tema
prévio cerceando questões durante os procedimentos criativos. A ideia dos
criadores era se lançar numa desestabilização provocada no encontro com a
proposição de outros artistas, inspirados na noção de entropia.
Por
mais que o projeto tenha surgido sob o desejo de proceder num caráter
experimental, a trajetória dos criadores impôs a condição de trabalharem
remotamente, via web. A partir disso, seria necessário então, formular
estratégias para experimentar dentro do ambiente virtual e se desvencilhar os
paradigmas eleitos pelo senso-comum a esse respeito. A imposição dessa
circunstância parece ter desestabilizado o ponto de partida do projeto de tal
maneira que, foi preciso tomá-la como tema, mesmo que isso fosse contra a ideia
inicial de um processo experimental.
Para
ser experimental, uma obra de dança deve trazer essa característica tanto em
seu processo como em sua configuração? O que determina tal característica será
a ausência de conformações prévias, fronteiras definidas, cenas resolvidas?
Identificamos
na configuração “final” do espetáculo, a circunstância da mediação virtual como
temática, de modo que as cenas trabalhavam com qualidades facilmente reconhecíveis
daquele ambiente, mas não mostravam um questionamento que aproximasse a
experimentação pretendida com uma hipótese a ser testada em forma de ação do
corpo que dança. Sugerimos que a existência de conceitos numa configuração de
dança está necessariamente atrelada à instabilidade, pois é precisamente na sua
reformulação no corpo que se manifesta como acontecimento.
Tanto
em Deleuze (1992) como para Lakoff e Johnson (Apud. GREINER, 2006, p. 44)
conceito e ação são indissociáveis. Enquanto o primeiro diz que conceito é
acontecimento (entendemos que acontecimento se dá em ação levando ao movimento),
a dupla de lingüistas afirma que os conceitos não são apenas matéria do
intelecto, mas governam nossas funções cotidianas e ações mais mundanas. Como a
dança não é filosofia, nossa preocupação é pensar como o conceito se manifesta
em linguagem de dança.
É
importante diferenciar os pressupostos que definem conceito na filosofia, na
linguística ou na arte, pois para Deleuze o bloco de sensações que a arte
produz pode servir de matéria para criação de conceitos, mas o contrário não
aconteceria. Todavia, Greiner afirma que metáfora não é só figura de linguagem,
que quando conceituamos transportamos informações de natureza metafórica.
Assim,
estas informações se manifestam tanto na produção de conceitos filosóficos,
como nos conceitos emergentes em processos criativos artísticos. Contudo, isso
não significa que não haja especificidades, pois eles acontecem por operações
distintas. Os conceitos estariam para arte da mesma forma que a arte estaria
para os conceitos, enquanto ação metafórica do corpo. Ações diferentes
engendram conceitos distintos.
Daí
ocorre que no trabalho de dança Nó
tudo se torna representação de uma função onde a irreversibilidade das ações se
preserva em meio à reversibilidade fragmentária da máquina. O tema como
paradigma não propõe a desestabilização do sistema dança enquanto configuração.
De modo que seria pertinente pensar que a dança e os conceitos apresentam uma
elasticidade enquanto possibilidade experimental para reconfiguração dos mesmos
num processo de criação que se afirma na instabilidade. Estamos falando de
sistemas dinâmicos.
A trans-aparência,
fruto da ampliação ótica do meio natural do homem, para Paul Virilio, ocorre
enquanto degradação do homem no ambiente, assim ele afirma que “haveria,
portanto, uma dimensão oculta da revolução das comunicações que afeta a
duração, o tempo vivido de nossas sociedades” (VIRILIO, 1993, p.106) Com ou sem
uma predisposição apocalíptica como a desse autor, o que dizer de um processo
criativo em dança criado no ambiente virtual? Qual a temporalidade dessa
criação? O ambiente criativo tornou-se espaço crítico além de tema? E ainda, o
que isso apresenta enquanto política da ação como conceito?
Notas
1.
Olga Lamas é atriz, dançarina, arte-educadora e produtora graduada no curso de
Teatro da UFBA. Giltanei Amorim é diretor, dançarino, videoartista e produtor
licenciado em dança pela UFBA. Mais informações sobre os artistas e sobre o
projeto em: http://projetono.blogspot.com.br/2012/01/sobre-os-artistas-propositores_11.html
(acessado em 31 de agosto de 2012).
2.
O Grupo Cena 11 Cia. De Dança tem sede em Florianópolis - SC e é voltado para pesquisa e formação em
dança. Para mais informações acerca do grupo ou do espetáculo mencionado acima:
http://www.cena11.com.br/blog/2011/07/pesquisa-condicionamento-fisico-criacao-artistica-registro-11/
(acessado em 31 de agosto de 2012).
3.
Vera Sala pesquisadora e criadora em dança, desenvolve trabalhos desde 1987.
Para mais informações sobre a artista: http://nucleoverasala.com.br/vera-sala/
(acessado em 31 de agosto de 2012).
Referências
-
BRITTO, Fabiana. Temporalidade em dança: parâmetros para uma
história contemporânea. – Belo Horizonte: FID Editorial, 2008;
-
CAUQUELIN, Anne. Le Site et Le Paysage.
– France: Quadrige/PUF, 2007;
-
DAMÁSIO, António R. E o cérebro criou o
homem. – São Paulo: Companhia das Letras, 2011;
- DELEUZE,
Guilles; GUATARRI, Felix. O que é
Filosofia? – Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992;
- GREINER,
Christine. O Corpo: Pistas para estudos
indisciplinares. – São Paulo: Ed. Annablume, 2005;
-
MASSEY, Doreen B. Pelo Espaço: uma nova
política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009;
-
MASSEY, Doreen B. “O sentido global de lugar” in: Arantes, Antonio A. (org) – O espaço da diferença, Campinas: Ed.
Papirus, 2000;
- VIRILIO,
Paul. O Espaço Crítico. – Rio de
Janeiro: Ed. 34, 1993;
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