domingo, 5 de fevereiro de 2012


Em nosso último encontro com Jacyan, nos foi proposto a criação de nossos próprios "avatares" feitos de massinha de modelar. De olhos fechados, após termos feito uma varredura de nosso próprio corpo, como se nas pontas de nossos dedos também existissem olhos. Tempo, calma, curiosidade... Olhos fechados no rosto, olhos abertos, muito abertos, nas pontas dos dedos. O avatar de Gil já foi mostrado num post mais abaixo. O meu é este:


Após ter criado meu avatar de massinha colorida, escrevi (durante 1min, no exercício de escrita em fluxo, proposto por Jacy):

Formas que parecem ser o que não são
Ou que poderiam ser
Ou que viriam a se tornar
Corpo achatado
Quadrado
Mãos trocadas
Mesa de cirurgia com boneco branco de asas em crucifixo
Costelas dando nó na barriga
Cinza - Branco - Multicolorido
Tudo muda ou pode ser ou não, a depender do como
Sempre o olhar
De olhos fechados
Mãos, literalmente, na massa
Cabeça de pássaro
Pescoço dolorido - torcicolo
Chão claro
Sujeira nas unhas - nem água tira direito
Pescoço, virilha, joelhos e cotovelos em ossos.


Ainda embalada por esse experimento, transcrevo abaixo um trecho do conto "O ovo e a galinha", de Clarice Lispector. Transcrevo-o porque o mistério e o encanto deste conto me remetem aos desafios deste processo de criação e, obviamente, também pelo branco. 

"Ovo é uma coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. - O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para sua época. - O ovo por enquanto será sempre revolucionário. - Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam o ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido. Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer "um rosto bonito", mas quem disser "o rosto" morre; por ter esgotado o assunto. 

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